Mônica de Hipona
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Santa Mônica
de Hipona (331 – 387) é uma considerada santa cristã e mãe de santo Agostinho de Hipona. A sua festa se realiza
em 27
de agosto.
Esta santa
alegadamente nasceu em 331 d.C., em Tagaste, mas há
controvérsias acerca dessa data. Foi, segundo as tradições católicas, criada
por uma dada, ou seja, uma escrava que
cuidava dos filhos dos senhores, dessa senhora recebeu "educação e rígidos
ensinamentos religiosos".
Casou-se,
conforme a lenda, aos dezessete ou dezoito anos com Patrício, o casal ocupava
razoável posição social, mas apesar disso Mônica não era feliz no casamento
pois sofria com a infidelidade do marido, por isso começa a atingir o ideal
cristão de boa esposa e mãe, já que nunca criou discórdia por esse motivo.
Foi mãe de Santo
Agostinho, sendo ele, segundo o também Doutor
da Igreja, o seu alicerce espiritual que o conduziu em direção à suposta
"fé verdadeira", já que o converteu por insistência ao Cristianismo.
Ele julgava ser a mãe a "intermediária" entre ele e Deus. Durante a
adolescência de Agostinho até ao seu batismo, Mônica vivia entre lágrimas,
lamentando a vida de alegadas "heresias" do
filho, e orava fervorosamente para que ele encontrasse a "verdadeira fé".
Agostinho
atribuiu a um sonho de sua mãe o passo definitivo para sua conversão e a
"confirmação" de sua vocação religiosa, desse modo Mônica se torna
responsável pelo destino cristão do filho.
A partir disso o
filho vê a mãe de forma santificadora, mas reconhece o fardo feminino que ela
carrega, já que nos primórdios da Igreja
Católica, a mulher era vista entre dois extremos, o da exaltação e da
condenação, devido à face maniqueísta desta
religião. A parte "boa" do sexo feminino era representada por Maria e a parte "ruim", que se
entrega à tentação, representada por Eva.
Foi dessa forma que Mônica foi vista por seu filho e pela Igreja
Católica.
Morreu aos 56
anos, no ano de 387,
mesmo ano da conversão de seu filho. Seu corpo foi "descoberto" em 1430 e transferido
para Roma onde
mais tarde uma igreja lhe
foi dedicada. Mônica foi canonizada não por ter operado milagres ou por ser mártir, mas
sim por ter sido, alegadamente, a "responsável pela conversão de seu
filho" mostrando empenho em ensinar condutas cristãs como moral, pudor e
mansidão, mostrando a intervenção feminina no interior da família,
pois foi o meio, através da oração, que contribuiu para a vida religiosa do
filho.
Os marinheiros
que acompanhavam Agostinho em suas viagens mediterrâneas se
confortavam orando à Mônica, pedindo a chegada a salvo.
Santo Agostinho de Hipona
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Nota: Para o santo homônimo de Cantuária,
consulte Santo Agostinho de Cantuária; para
outros significados, veja Santo Agostinho (desambiguação).
Aurélio
Agostinho (em latim: Aurelius Augustinus), dito de Hipona,[1] conhecido
como Santo Agostinho[2] (Tagaste, 13 de
novembro de 354 - Hipona, 28 de
agosto de 430),
foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo e
é um Padre latino eDoutor da Igreja
Católica.
Agostinho é uma
das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismono Ocidente.
Em seus primeiros anos, Agostinho foi fortemente influenciado pelomaniqueísmo e
pelo neoplatonismo de Plotino,[3] mas
depois de tornar-se cristão (387), ele desenvolveu a sua própria abordagem
sobre filosofia e teologia e uma variedade de métodos e perspectivas
diferentes.[4] Ele
aprofundou o conceito depecado original dos padres anteriores e,
quando o Império Romano do Ocidentecomeçou a desintegrar-se,
desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus (num
livro de mesmo nome), distinta da cidade material do homem.[5] Seu
pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval. A Igreja se
identificou com o conceito de "Cidade de Deus" de Agostinho, e também
a comunidade que era devota de Deus.[6]
Na Igreja
Católica, e na Igreja Anglicana, é considerado santo, e
importante Doutor da Igreja, e o patrono da ordem religiosa agostiniana.
Muitos protestantes, especialmente os calvinistas mas
também os luteranos (basta recordar queMartinho
Lutero era inicialmente um sacerdote católico agostiniano),
consideram-no como um dos pais teólogos da Reforma Protestante ensinando a salvação e
agraça
divina.
Na Igreja
Ortodoxa Oriental ele é louvado, e seu dia festivo é celebrado
em 15
de junho, apesar de uma minoria ser da opinião que ele é um herege,
principalmente por causa de suas mensagens sobre o que se tornou conhecido como
a cláusula filioque.[7] Entre
os ortodoxos é chamado de "Agostinho Abençoado", ou "Santo
Agostinho o Abençoado".[8] Agustinho na
escola deTagaste
Agostinho, em um
afresco deSandro Botticelli.
Agostinho nasceu
na cidade de Tagaste (atualSouk-Ahras, Argélia), a
cerca de 90 km doMediterrâneo, na Numídia (atual Souk Ahras),
à época uma província romana do norte
da África. Apesar do gentílico Aurelius, que poderia indicar a
aquisição da cidadania romana sob o reinado deMarco
Aurélio, Cômodo ou Caracala,
Agostinho era de ascendência berbere. Seu pai, Patricius, era um berbere romanizado, cidadão
romano, pagão; a mãe, Mônica, era berbere cristã[9].
A esperança da família, sem muitos recursos, era educar seus filhos para que se
tornassem professores, advogados ou membros da administração imperial.
Agostinho foi educado no norte da África e resistiu aos ensinamentos de sua mãe
para se tornar cristão.[10]
Com onze anos de
idade, foi enviado para a escola em Madaura, uma pequena cidade da Numídia. Lá
ele tornou-se familiarizado com a literatura
latina e com práticas e crenças do paganismo.
Em 369 e370, permaneceu em casa.
Durante esse
período Agostinho leu o diálogo Hortensius de Cícero (hoje
perdido), que deixaria uma impressão duradoura sobre ele e despertando-lhe o
interesse pela filosofia. Passou a ser um seguidor do maniqueísmo.[10]
Com dezessete anos,
graças à generosidade de um concidadão, chamado Romaniano, o pai de Agostinho
pôde enviá-lo para Cartago para continuar sua educação na retórica.
Vivendo como um pagão intelectual, ele tomou uma concubina. Numa tenra idade,
desenvolveu uma relação estável com uma jovem, em Cartago, com a qual viveu
em concubinato por
quinze anos e com quem viria a ter um filho,Adeodato. Segundo a lei
romana, sendo a mulher de classe inferior, eles não poderiam se casar. O casal
viria a se separarar em 386, quando ela o deixou em Milão e partiu para a Numídia. [11]
Durante os
anos 373 e 374, Agostinho ensinou
gramática em Tagaste. No ano seguinte, mudou-se para Cartago a fim de ocupar o
cargo de professor da cadeira municipal de retórica, e permanecerá lá durante
os próximos nove anos.[10]
Desiludido pelo
comportamento indisciplinado dos alunos em Cartago, em 383, mudou-se para
estabelecer uma escola em Roma, onde ele acreditava que os melhores e mais brilhantes
retóricos ensinaram. No entanto, Agostinho ficou desapontado com as escolas
romanas, que ele encontrou apática. Quando chegou o momento para os seus alunos
para pagar os seus honorários eles simplesmente fugiram.
Amigos maniqueístas apresentaram-lhe
o prefeito da cidade de Roma, Symmachus, que tinha sido solicitado a fornecer
um professor de retórica imperial para o tribunal provincial em Milão. Agostinho
ganhou o emprego e ocupou o cargo no final de 384.[10]
[editar]Cristão
Enquanto ele
estava em Milão,
Agostinho mudou de vida. Ainda em Cartago, começou
a abandonar o maniqueísmo, em parte devido a um decepcionante encontro
com um chefe expoente da teologia maniqueísta, Fausto.[10]
Em Roma, ele relata ter
completamente se afastado do maniqueísmo, e abraçou o movimento cético da
Academia Neoplatónica. Sua mãe insistia para que ele se tornasse cristão e
também seus próprios estudos sobre o neoplatonismo também
foram levando-o neste sentido, e seu amigo Simplicianus instou-o dessa forma
também. Mas foi a oratória do bispo de Milão,Ambrósio, que teve mais influência sobre a conversão
de Agostinho.
A mãe de
Agostinho havia-o seguido para Milão e insistiu para que abandonasse a relação
com a mulher com quem vivia ilegalmente e procurasse outra para casar, conforme
as leis do mundo e a doutrina cristã. A amada foi mandada de volta para a
África e Agostinho deveria esperar dois anos para contrair casamento legal; mas
logo ligou-se a uma concubina.[10]
No verão de 386, após ter lido um
relato da vida de António do Deserto, de Atanásio de Alexandria, que muito
inspirou-lhe, Agostinho sofreu uma profunda crise pessoal. Decidiu se converter
ao cristianismo católico, abandonar a sua carreira na retórica, encerrar sua
posição no ensino em Milão, desistir de qualquer ideia de casamento, e
dedicar-se inteiramente a servir a Deus e às práticas do sacerdócio.
A chave para esta
transformação foi à voz de uma criança invisível, que ouviu enquanto estava em
seu jardim em Milão, que cantava repetidamente, "Tolle, lege"; "tolle,
lege" ("toma e lê"; "toma e ler"). Ele tomou
o texto da epístola de Paulo aos
romanos, e abriu ao acaso em 13:13-14, onde lê-se: "Não caminheis
em glutonerias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em
contendas e rixas, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a
satisfação da carne com seus apetites".[10]
Ele narra em
detalhes sua jornada espiritual em sua famosa Confissões (Confessions),
que se tornou um clássico tanto da teologia cristã quanto da literatura
mundial. Ambrósio batizou Agostinho, juntamente com seu filho, Adeodato, na
vigília da Páscoa, em 387, em Milão, e logo depois, em 388 ele retornou à
África. Em seu caminho de volta à África sua mãe morreu, e logo após também seu
filho, deixando-o sozinho, sem família.
[editar]Bispo
Após o regresso
ao Norte da África, vendeu seu patrimônio e deu o dinheiro aos pobres. A única
coisa com que ele ficou foi a casa da família, que se converteu em uma fundação
monástica para si e um grupo de amigos.
Em 391, ele foi
ordenado sacerdote em Hipona (atual Annaba, na Argélia).
Em 396, foi
eleito bispo coadjutor de Hipona (auxiliar, com o direito de
sucessão depois da morte do bispo corrente) e pouco depois bispo principal. Ele
permaneceu nessa posição em Hipona até sua morte em 430.[10]
Ele deixou o seu
mosteiro, mas continuou a levar uma vida monástica na residência episcopal. Ele
deixou uma regra (latim, regulamentos) para seu mosteiro que o levou ser
designado o "santo padroeiro do clero regular", isto é, sacerdotes
que vivem por uma regra monástica.
Tumba de
Agostinho na Basílica de
São Pedro em céu de ouro em Pávia.
Sua vida foi
registrada pela primeira vez por seu amigo São Possídio, bispo de Calama, no
seu Sancti Augustini vita. Descreveu-o como homem de poderoso intelecto
e um enérgico orador, que em muitas oportunidades defendeu a fé católica contra
todos seus inimigos.[10]
Possídio também
descreveu traços pessoais de Agostinho com detalhe, desenhando um retrato de um
homem que comia com parcimónia, trabalhou incansavelmente, desprezando fofocas,
rejeitando as tentações da carne, e que exerceu a prudência na gestão
financeira conforme sua posição e autoridade de bispo.
Sua vida não é
tranquila: missa diária, prega até duas vezes ao dia, dá catequese, administra
bens temporais, resolve questões de justiça (cerca, muro, dívidas, brigas de
família…), atende aos pobres e órfãos, etc.[12]
Pouco antes da
morte de Agostinho, a província da África Proconsular foi invadida pelosvândalos,
uma tribo guerreira que estava aderindo ao arianismo.
Pouco depois de Hipona ser cercada pelos bárbaros Agostinho adoeceu; Possídio
relata que ele gastou seus últimos dias em oração e penitência, pedindo para
que os salmos penitenciais de Davi fossem
pendurados em sua parede para que ele pudesse ler. Pouco tempo após sua morte,
os vândalos levantaram o cerco de Hipona, mas não muito tempo depois eles
voltaram e queimaram a cidade. Eles destruíram tudo, mas a catedral de
Agostinho e a biblioteca ficaram inalteradas.
Agostinho foi
canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um Doutor
da Igreja. Na Igreja
Católica, o seu dia é 28 de
agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo
padroeiro dos impressores, teólogos e de um grande número de cidades e dioceses. Para
os protestantes ou evangélicos,
Agostinho é referencial na história eclesiástica, pois foi um valoroso líder
da Igreja primitiva e deixou suas marcas como
verdadeiro discípulo de Cristo.
[editar]Obras
Agostinho foi um
autor prolífico em muitos géneros — tratados filosóficos, teológicos,
comentários de escritos da Bíblia, além
de sermões e cartas.[10]
Dele restaram
algumas centenas de cartas (Epistulae) e de sermões (Sermones) considerados
autênticos. Além disso, deixou 113 obras escritas.[12]
Agostinho é
chamado de o Doutor da Graça, por sua compreensão sobre o tema.
- Textos autobiográficos:
As suas Confissões (Confesiones),
escritas entre os anos 397-398,
são geralmente consideradas como a primeira autobiografia. Agostinho descreve
sua vida desde sua concepção até à sua então relação com Deus, e termina com um
longo discurso sobre o livro do Génesis, no qual ele demonstra como interpretar
a Bíblia.
A consciência psicológica e auto-revelação da obra ainda impressionam leitores.
Mesmo sendo uma
autobiografia, as Confissões não deixam de ter a marca
filosófica de Agostinho. No Livro X, Agostinho escreve sobre a memória e suas
atribuições. Já no Livro XI, Agostinho fala sobre a Criação, sobre o Tempo e da
noção psicológica que se tem deste.
No fim da sua
vida, Agostinho revisitou os seus trabalhos anteriores por ordem cronológica e
sugeriu que teria falado de forma diferente numa obra intitulada Retratações,
que nos daria uma imagem considerável do desenvolvimento de um escritor e os
seus pensamentos finais.
- Filosóficos:
Diálogos: Solilóquios (Soliloquiorum libri duo),
Sobre o Mestre (De Magistro, trata da educação neste diálogo), Sobre o
livre arbítrio (De Libero Arbitrio, trata sobre o mal e sobre as
escolhas)
Contra os
acadêmicos (Contra academicos, em que combate o cepticismo).
O Livro das
disciplinas (Disciplinarum libri é uma vasta enciclopédia com o fim
de mostrar como se pode e se deve ascender a Deus a partir das coisas
materiais. Não está acabada).
- Apologéticos: Da verdadeira religião (De vera
religione), etc.
A
Cidade de Deus (iniciada
c. de 413, terminada em 426, uma de suas obras capitais, nela nos oferece uma
síntese de seu pensamento filosófico, teológico e político). O De
civitate Dei libri XXII.
- Dogmáticos:
Entre 399-422, escreveu A
Trindade, uma das principais obras que apoia a crença na Santíssima Trindade de Deus. O De
Trinitate libri XV.
Sobre a
imortalidade da alma (De inmortalitate animae)
Sobre a
potencialidade da alma (De quantitate animae)
Enquirídio (Enchiridion,
ad Laurentium ou De fide, spe et caritate liber I, é um
manual de teologia segundo o esquema das três virtudes teológicas. Contém uma
explicação do Credo, da oração do Padre Nosso e dos preceitos morais da Igreja
Católica).
Da fé e do credo
livro I (De fide et símbolo liber I), etc.
- Morais e pastorais:
Contra
mendacium, Da catequese
dos não instruídos livro I (De catechizandis rudibus liber I), Da
continência livro I (De continentia liber I), Da paciência livro I (De
patientia liber I), etc.
- Monásticos:
Regula ad
servos — a mais
antiga das regras monásticas do Ocidente.
- Exegéticos:
A Bíblia teve um
papel decisivo para Agostinho. Pode-se destacar:
Da doutrina
cristã livro IV (De doctrina christiana libri IV (é uma síntese
dogmática que servirá de modelo para as Sententiae os
pensadores da Idade Média), De Genesi ad litteram libri XII,
Da harmonia dos evangelhistas livro IV (De consensu Evangelistarum libri IV (foram
escritos em resposta aos que acusavam os evangelistas de contradizer-se e de
haver atribuído falsamente a Cristo a divinidade), etc.
- Tratados:
Tratados sobre o
evangelho de João (In Iohannis evangelium tractatus), As enarrações, ou
exposições, dos Salmos (Enarrationes in Psalmos), etc.
- Polémicos:
Muitas de suas
obras tem caráter polêmico por causa dos conflitos que ele enfrentou. Isso
levou São Posídio a classificá-las conforme os adversários combatidos: pagãos,
astrológos, judeus, maniqueus, priscilianistas, donatistas, pelagianos, arianos
e apolinaristas.[10]
De natura boni
liber I, Psalmus
contra partem Donati, De peccatorum meritis et remissione et de
baptismo parvolorum ad Marcellium libri III (de 412, primeira teología
bíblica da redencão, do pecado original e da necessidade do batismo), De
gratia et libero arbitrio liber I (de 426, em que demonstra a
necessidade da graça, da existência do livre arbitrío), De haeresibus,
etc.
[editar]Pensamento
O problema do
mal
Em seu
livro Sobre o livre arbítrio (em latim: De libero
arbitrio) Agostinho responde de ao problema
filosofico do mal de forma filosófica, demonstrando também
filosoficamente que Deus não é o criador do mal. Pois, para ele, tornava-se
inconcebível o fato de que um ser benevolente, pudesse ter criado o mal.[13]
A concepção que
Agostinho tem do mal, tem como base teoria platônica e
a desenvolve. Assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o
bem. O mal é aquilo que "sobraria" quando não existe mais a presença
do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto o mal não
seria oriundo da criação divina, mas seu antagonista por excelência, na
condição de fruto do seu afastamento. No diálogo com seu amigo Evódio,
Agostinho explica-lhe que a origem do mal está no livre-arbítrio concedido por
Deus. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autônomo e assim
escolher o bem de forma voluntária, um ser consciente. O homem, então, é o
único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do
conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em
si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente
de Deus em uma criação perfeita) e algo mau (a prevalência da vontades humanas
imperfeitas e que afetam negativamente a criação da perfeição idealizada
por Deus).[14]
Entretanto, por
ter em si mesmo a carga do pecado original de Adão e
Eva, estaria constantemente tendenciado a escolher praticar uma ação que
satisfizesse suas paixões (a ausência de Deus em sua vida). Deus, portanto, não
é o autor do mal, mas é autor do livre-arbítrio, que concede aos homens a
liberdade de exercer o mal, ou melhor, de não praticar o bem. Esse argumento também
implica que o ser humano tem direito de escolha sobre sua própria vida, não é
apenas um ser programado. E se, segundo Agostinho, o bem é apreciado por Deus e a prática
perfeita, todas as ações por ele inspiradas se tornam virtuosas e louváveis.
Sendo que em um universo de seres não conscientes e que não têm livre-arbítrio,
as práticas do bem e do mal seriam programadas e não poderiam ser classificadas
como boas ou ruins.
Tempo e
Criação
No Livro XI
das Confissões (em latim: Confessiones) Agostinho
põe-se a cargo de versar acerca da criação do mundo por meio do Verbo, que
podemos entender como "palavra criadora". Com efeito, o filósofo
compreende que o mundo só poderia ter duas origens 1) do nada (em latim: ex-nihilo)
e 2) a partir de parte da sua substância. No entanto, a última suposição é
falsa pois teria de se admitir um Deus mutável, algo não condizente com o
pensamento do Doutor Africano.
A fim de
responder a asserção: "Do que faria Deus antes de criar o mundo?"[15] o
filósofo tece sua crítica aos maniqueus e
expõe seu pensamento a respeito do tempo e da criação. A evidente resposta de
Agostinho à tal pergunta é a de que Deus não estaria a fazer nada, pois não
havia tempo antes deste ter sido criado por Deus, ficando expresso que o tempo
nada mais é do que uma criatura assim como o mundo e todas as coisas. Para o
pensador, o tempo e o universo foram criado em conjunto, e Deus estaria fora
deste contexto pois ele é eterno e a eternidade não entra no tempo.
Para o filósofo
medieval, o tempo não tem existência per se e só pode ser
apreendido por nossa alma por meio de uma atividade chamada de "distensão
da alma" (em latim: distentio animi). A distensão da alma,
grosso modo, nada mais é do que a compreensão dos três tempos; pretérito,
presente e futuro na alma, de modo que seja possível lembrar do passado, viver
o presente e prever o futuro. Agostinho afirma que a alma é quem pode medir o
tempo e essa "medição" atesta a existência do tempo apenas em caráter
psicológico.
[editar]Influência
como pensador e teólogo
Santo Agostinho.
Na história do
pensamento ocidental, sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo,
particularmente por Plotino, Agostinho foi importante para o "baptismo"
do pensamento grego e a sua entrada na tradição cristã e, posteriormente, na tradição
intelectual europeia. Também importantes foram os seus adiantados e influentes
escritos sobre a vontade humana, um tópico central na ética, que se
tornaram um foco para filósofos posteriores, como Arthur Schopenhauer eFriedrich Nietzsche, mas ainda encontrando eco
na obra de Albert Camus e Hannah
Arendt (ambos os filósofos escreveram teses sobre Agostinho).
É largamente
devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a
doutrina do pecado original. Os teólogos católicos geralmente
concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no
"presente eterno"; o tempo só existe dentro do universo criado.
O pensamento de
Agostinho foi também basilar na orientação da visão do homem medieval sobre a
relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância
do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo
vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo portanto mais
importante. Agostinho afirmava que a interpretação da Bíblia deveria
ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o
mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do Gênesis, como
o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico", iriam influenciar
fortemente a Igreja medieval, que teria uma visão mais interpretativa e menos
literal dos textos sagrados.
Tomás
de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do
pensamento filosófico grego e do cristão.
Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de Agostinho
foram João Calvino e Cornelius Otto Jansenius.
[editar]Ver também
Notas e
referências
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Pronunciation Dictionary. 2 ed. Nova York: Longman, 2000. ISBN
0582364671
- ↑ The American Heritage
College Dictionary. Boston: Houghton Mifflin Company, 1997. 91 p. ISBN
0395669170
- ↑ Cross, Frank L.;
Livingstone, Elizabeth. The Oxford Dictionary of the Christian
Church. Oxford Oxfordshire: Oxford University Press, 2005. Capítulo: Platonism, ISBN
0192802909
- ↑ Augustine the
Theologian. Londres: [s.n.], 1970. 347-349 p. ISBN
0223-97728-4 (edição de março de 2002, ISBN
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- ↑ Durant, Will. Caesar
and Christ: a History of Roman Civilization and of Christianity from Their
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- ↑ Wilken, Robert L.. The
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2003. 291 p. ISBN
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- ↑ Archimandrite [now
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visitada em 28 de junho de 2007.
- ↑ "'Abençoado',
aqui, não significa que ele é menos que um santo, porém é um título
concedido a ele como sinal de respeito.""Blessed Augustine of Hippo: His
Place in the Orthodox Church: A Corrective Compilation". Orthodox Tradition XIV: 33-35. Página
visitada em 28-6-2007.
- ↑ Mônica
é diminutivo de Monna, nome de uma divindade do Norte da África, cujo
culto é referido em uma inscrição de Thignica (Ain Tounga, no vale
do rio Medjerda). V. Nacéra
Benseddik "À
la recherche de Thagaste, patrie de Sant Augustin". In FUX, Pierre-Yves
(org), Augustinus Afer: Saint Augustin, africanité et universalité.
Éditions universitaires
Fribourg Suisse, 2003, p.418
- ↑ a b c d e f g h i j k AGOSTINHO
DE HIPONA. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio
de Pina; “Vida e obra” por José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Nova
Cultural, 1999. 416 p. (Coleção Os Pensadores). Original em
latim. ISBN
85-13-00848-6.
- ↑ No
Livro VI das Confissões, Agostinho escreve que a razão da
separação teria sido a perspectiva de um casamento arranjado. "Sendo
arrancada do meu lado, como impedimento para o matrimônio, aquela com quem
partilhava o leito, o meu coração, onde ela estava presa, rasgou-se,
feriu-se, escorria sangue. Retirara-se ela para a África, fazendo votos de
jamais conviver com outro homem e deixando-me o filho natural que dela
tivera." Confissões VI,
parte III, 15. "Cativo do prazer". Santo Agostinho.
2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Assim, diante da insistência da
mãe para que ele se casasse, Agostinho teria afinal repudiado sua mulher,
fazendo-a voltar para a África, mantendo o filho Adeodato com ele. O nome
da mãe de Adeodato não é mencionado em nenhum texto.
- ↑ a b Besen, José
Artulino. Agostinho e
os Pais do Ocidente. Página visitada em 21 de maio de 2009.
- ↑ Lucena,
Elisa. O
problema do mal em Agostinho. Página visitada em 9 de maio de
2009.
- ↑ Moraes
Neto, Felipe José de; Simões, Adelson Cheibel. O
livre-arbítrio e a relação com o Criador, no Livro III, da obra O
Livre-Arbítrio de Santo Agostinho. Página visitada em 9 de maio de
2009.
- ↑ Confissões
XI; X, XII
- Este artigo foi inicialmente
traduzido do artigo da Wikipédia em espanhol, cujo título é «Agustín de Hipona», especificamente desta
versão.
[editar]Bibliografia
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Volume II. Trad. de J. Dias Pereira. Lisboa: Fundação Calouste
Goulbekian, 2000.
- ______. A Trindade. Trad.
de Frei Agustinho Belmonte, O.A.R. São Paulo: Paulus, 1994.
- ______. Confissões. Trad.
J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina; “Vida e obra” por José Américo
Motta Pessanha. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os pensadores).
- ______. La inmortalidad del
alma. Lope Cilleruelo. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1988.
(Obras completas de San Agustin XXXIX).
- ______. Sobre a
potencialidade da alma (De quantitate animae). Trad. de Aloysio
Jansen de Faria. Petrópolis: Vozes, 2005.
- DILMAN, Ilham. Free
will: an historical and philosophical introduction. Florence, KY, USA: Routledge, 1999.
- GILSON, Etienne. Introdução
ao estudo de Santo Agostinho. Trad. de Cristiane Negreiros Abbud
Ayoub. São Paulo: Paulus, 2006.
- OS PENSADORES, “São Tomás de Aquino”
São Paulo: Abril Cultural 1980.
- OS PENSADORES, “Santo Agostinho” São
Paulo: Abril Cultural 1980.
- PESANHA, José de Américo Motta.
“Santo Agostinho (354-430) Vida e Obra” p. VI – XXIV in “Os
Pensadores, Santo Agostinho” São Paulo: Abril Cultural 1980.
- ROSA, Maria da Glória de. “A História
da Educação através dos textos”. São Paulo: CULTRIX, 2002
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